Release CD Mirianês Zabot - Mosaico Foto-Prosaico


MIRIANÊS ZABOT E O PRAZER DA MÚSICA

Por Toninho Spessoto , jornalista, radialista e crítico musical - Outubro/2009

Mirianês Zabot.

O nome, por si só, impressiona. Pela sonoridade e força.

A história musical dessa doce cantora gaúcha começa em 1996, com os primeiros estudos de violão e técnica em Ciríaco e São Domingos do Sul, interior do Rio Grandedo Sul. A partir daí, cresce o interesse no aprimoramento técnico com estudos em Nova Bassano, Passo Fundo e, a partir de 2007, em São Paulo, onde está radicada.

A história profissional de Mirianês Zabot é rica e diversificada. Ela já fez de tudo: participou de festivais, cantou em corais, fez parte de bandas de baile, trabalhou com publicidade, integrou grupos de música nativista, cantou em bandas de forró e reggae, fez participações especiais em gravações de discos e DVDs de músicos dos mais diversos gêneros, deu aulas de canto, atuou em espetáculos teatrais musicais. Ainda mantém algumas dessas atividades.

Parece muito?

Pois para Mirianês Zabot é apenas o começo.

Essa gaúcha de 28 anos chega ao primeiro disco, o impressionante Mosaico Foto-Prosaico, produção independente distribuída pela Tratore e assinada por Itamar Collaço, baixista do Zimbo Trio.

O repertório tem onze temas e neles é possível detectar claramente todos os caminhos musicais trilhados por Mirianês Zabot.

Senão, ouçamos:

O repertório abre com o maracatu Anabela (Mário Gil/Paulo César Pinheiro), belíssimo tema com arranjo que privilegia as nuances rítmicas e realça de cara a brejeirice da voz de Mirianês. O samba dá o tom em 1/2% de Tristeza (Alexandre Florez), com letra bem sacada sobre alguém para quem não existe tempo ruim. Mirianês explora a faceta jocosa do seu interpretar. A valsa-quase-oração Mosaico Foto-Prosaico de Nsa. Sra. Aparecida (New/Luis Mauro Vianna), com seus sinuosos caminhos líricos e harmônicos, é uma ode à canção interpretada com emoção. O fox Quando Me Encontrar (Rafael Brasil) é um doce tema romântico abordado com leveza pela cantora. O samba A Chaga (Fausto Prado/Caetano Silveira) é um retrato da infância perdida dos meninos de rua. Na voz de Mirianês, a dramaticidade urgente expressa também num rap bem colocado. A valsa-canção Canções (Ricardo Pacheco/ Caetano Silveira) fala do lirismo da música. É a profissão de fé de Mirianês Zabot.

O galope Berimbau Sabiá (Otávio Segala) retrata ao mesmo tempo a fauna brasileira e nossas tradições culturais das quais certos abutres do poder tentam se apossar. Mesmo sendo gaúcha, Mirianês impõe um acento interpretativo nordestino, prova de sua enorme capacidade de captar intenções. A tocante Reza (Raul Boeira/Marcelo Onofri) é uma oração pela preservação da vida dirigida a um de seus maiores defensores, Tom Jobim, Maestro Soberano. Na voz de Mirianês, a aflição e o rogar em doses precisas. E no vocalise, uma rápida citação de Olha Maria (Tom Jobim/Chico Buarque/Vinícius de Moraes). Deixa o Amor Me Levar (Clovis Itaquy/Otávio Segala), doce forró que prega a necessidade de amar, tem na interpretação de Mirianês a compreensão exata do sentido dos versos. O Baba do Chico (Jerônimo Jardim/ Paulinho Tapajós) começa como calango e desemboca num refrão em forma de samba. A dificuldade da sobrevivência nos tempos de hoje é o mote. A cantora atua como retratista desse momento. O Segredo Secreto da Vida (Alegre Corrêa), que fecha o repertório, é uma canção que tem por tema amor e sonho. A voz de Mirianês Zabot soa ainda mais doce e terna.

A base instrumental, franciscanamente simples e absolutamente exata, é formada por Itamar Collaço (baixo, arranjos), Marinho Boffa (piano, cordas, arranjos) e Percio Sapia (bateria, arranjos). A própria Mirianês Zabot faz os vocais de apoio.

Mosaico Foto-Prosaico é um disco marcado por simplicidade, riqueza e beleza. E sobretudo pelo imenso talento de Mirianês Zabot.

Mais que uma cantora, uma porta-voz da sensibilidade.

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